Aberta em 1922, como Bazar Várzea-Grandense, depois de 32 anos, em 1954, o poconeano José Maria Pereira Leite, – seo Zé, assumiu o negócio do sogro – e alterou o nome do comércio para Armazém São Sebastião. Seo Zé, 89 anos, é casado com a várzea-grandense, Izabel Dalila da Costa Leite.
Em 1991, os filhos, José Gonçalo Pereira Leite e Joni Santana Pereira Leite, assumiram o comércio da família e nova alteração contratual foi feita – e desta vez o Armazém São Sebastião, passou a ser chamado de Casa Pereira – o “Senadinho de Várzea Grande”. Porém, em 2020, Seo Zé e dona Izabel, perderam seu filho Joni, aos 57 anos, vítima de câncer. Apesar de nunca ter exercido cargo público, era considerado o braço “político” da família. Ele gostava de discutir política, dar sua opinião, era articulador da Casa.
Ponto de encontro – No local, os políticos, pretensos políticos e os “analistas políticos” se reuniam para discutir o destino de Várzea Grande e de Mato Grosso. Seo Zé recebeu na Casa Pereira governadores, senadores, prefeitos, deputados estaduais e federais. Entre os governadores que frequentaram, ou pelo menos visitaram o seo Zé, na Casa Pereira, estão: Jayme Campos, Blairo Maggi, Silval Barbosa e Pedro Taques, Kalil Baracat, o Luiz Antônio Pagot, José Riva entre outros.
Blairo Maggi visitou a Casa Pereira e ao final da conversa, José Pereira presenteou o então governador com uma botina, vendida em sua loja. “Esse presente é para o senhor”, disse o comerciante ao entregar o presente a Maggi, que agradeceu e calçou a botina.
De geração para geração – Um comércio que passou de sogro para genro, de pai para filhos, fecha as portas depois de 100 anos de história. Para tristeza dos frequentadores acostumados a passar no local para “jogar dois dedinhos de prosa fora” com o seo Zé, ou para tomar um guaraná ralado, não terá mais o Senadinho de VG.
Em entrevista ao , José, um dos sócios e o filho mais novo de seo José, revelou que cada vez que tem que entrar no estabelecimento para buscar algum objeto – sai de lá com o peito apertado, com vontade de chorar. “Não tenho coragem de abrir e fechar o comércio, dá vontade de chorar de tanta tristeza”.
José contou que está aposentado há três anos, e sua carteira de trabalho foi assinada pelo pai em 1980. Segundo ele, nunca trabalhou em outro lugar, sempre ao lado do pai – mas devido à saúde precária, dele e do pai, aliados ao baque que a família sofreu em 2020, com a perda dois irmãos, Joni e Vanda Pereira, que morreu três dias após a morte de Joni, a concorrência muito forte, e a queda nas vendas, fizeram com que chegassem à decisão de encerrar as atividades comerciais. Em menos de três dias, mais um membro da família Pereira morre vítima de Câncer em VG
“Meu pai não queria que encerrássemos as atividades, mas devido à idade, que faz 90 anos em setembro, estou com problema na coluna e preciso ir ao médico. Faço fisioterapia, aliado a isso tudo, tem três lojas vizinhas a Casa Pereira, que incomodam muito com som alto. Já reclamamos e nada foi feito. Você já não está bem de saúde, e mais o barulho o dia todo, que você nem consegue conversar com os clientes, aí decidimos, após uma reunião, fechar as portas. Mas é uma tristeza muito grande”, desabafou José.
Apelo – O prefeito de Várzea Grande, Kalil Baracat foi até o seo Zé e ao filho José Gonçalo para tentar persuadi-los a não fechar o comércio, mas sem sucesso. “Kalil nos procurou pedindo para não fecharmos a Casa Pereira, mas a decisão já está tomada. Estamos aguardando os trâmites legais para encerrar legalmente as atividades nos órgãos competentes, mas desde 23 de dezembro estamos com as portas fechadas”, contou José.
Museu – José disse que se não conseguirem vender os estoques, e os mobiliários do estabelecimento centenário, alguns objetos, como balança, o caixa, os quais são do tempo de seu avô, o balcão feito de madeira, entre outros objetos, serão levados para a fazenda e futuramente pretende fazer um museu para expor.
O local já está anunciado em uma imobiliária, e José Gonçalo espera encontrar um comprador para dar continuidade ao comércio – apesar de saber que não será mais o mesmo.
Família tradicional – O poconeano José Maria Pereira Leite, – seo Zé e a várzea-grandense Izabel Dalila da Costa Leite, moram no mesmo endereço, na rua Salim Nadaf, em Várzea Grande, desde que se casaram e formaram família. Eles são conhecidos e estimados no município.